segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

Interesse Público

A cada dia temos que nos fortalecer diante do quadro político em que nosso país esta imerso.
Os servidores públicos e toda a população devem estar unidos mais do que nunca para combatermos
todas as tentativas de retirada de direitos que conseguimos ao longo da história. Não apenas em nível federal, mas estadual e municipal. A política se faz nos três níveis de governo e nos três poderes da sociedade. 

Municípios do interior do Estado em situação crítica destinam verba para o Carnaval : http://observatoriopublica.com.br/?p=1913
Servidores da Prefeitura de Palmas cobram pagamento de data base e progressões : http://observatoriopublica.com.br/?p=1872
Por salários atrasados, servidores ocupam Câmara de Uberlândia : http://observatoriopublica.com.br/?p=1835

Eles estão se lixando

Assine a petição online para exigir que os senadores apoiem a criação da CPI da Previdência.*https://secure.avaaz.org/po/petition/Senadores_Apoiem_a_criacao_de_uma_CPI_para_examinar_as_contas_da_Previdencia/?cNpWJlb



Governo quer aumentar faixa de isenção do Imposto de Renda ainda em 2017 
Atualmente, contribuintes que recebem até R$ 1.903,98 não precisam pagar 
este imposto.


POR PAULA ZOGBI  16 fev, 2017 10h15


SÃO PAULO – Com popularidade baixa, o governo Temer pretende aumentar a faixa de renda isenta 
de Imposto de Renda (IRPF) ainda em 2017, de acordo com fontes do Estadão. Atualmente, contribu-
intes que recebem até R$ 1.903,98 não precisam pagar este imposto.

De acordo com a reportagem, chegou a haver a sugestão de subir esse valor para R$ 8 mil, algo que
 o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, negou.

Como as declarações ainda não começaram – o programa gerador estará disponível no dia 23 e o iní-
cio da recepção é apenas em 2 de março –, a faixa maior de isenção ainda pode ser aplicada à decla-
ração referente a 2016.  

Ainda segundo o Estado, a Receita também estuda criar uma nova faixa do IR para contribuintes que
 têm renda acima de R$ 20 mil mensais. Essas pessoas poderiam pagar entre 30% e 35% de imposto
 de renda.


Fonte: http://www.infomoney.com.br/minhas-financas/impostos/noticia/6141275/governo-quer-aument
ar-faixa-isencao-imposto-renda-ainda-2017-diz


Temer vai enviar ao Congresso projeto de lei sobre direito à greve

Eduardo Barretto,Simone Iglesias - O Globo


BRASÍLIA - O presidente Michel Temer anunciou que o governo federal vai enviar um projeto de lei ao Congresso que regulamente o direito à greve. Em declaração à imprensa neste segunda-feira, Temer falou na crise do Espírito Santo, que está com policiais militares em greves há dez dias e já tem mais de 140 mortos, como se ela já estivesse encerrada. Neste domingo, o ministro da Defesa, Raul Jungmann, declarou que a crise estava "superada".
— O Supremo Tribunal Federal, em vários momentos, já se manifestou sobre essa matéria (direito à greve), em face, precisamente, da omissão, da não realização, da não aprovação de um projeto disciplinador do texto constitucional — disse Temer, enfatizando que o anúncio não tem "nada a ver" com a crise capixaba.
Michel Temer chegou a dizer que a crise "acontece", mas se corrigiu e colocou o verbo no passado: "aconteceu". A Polícia Militar ainda está em greve no Espírito Santo e mais de 140 pessoas foram mortas em dez dias. O governo federal enviou 3.130 militares para o estado.
— Ressalto que isso não tem nada a ver com o que acontece, aconteceu, no Espírito Santo — disse Temer, chamando de "insurgência" o movimento grevista da polícia, que é vedado pela Constituição Federal. O presidente voltou a garantir que a União está pronta para enviar reforço militar para estados que estiverm com problemas na segurança pública. Neste domingo, segundo a Polícia Militar fluminense, havia manifestações em frente a 27 batalhões no Rio.
Também neste domingo, após reunião com Temer e ministros, o chefe da Defesa, Raul Jungmann, disse que a crise de segurança no Espírito Santo estava "superada", depois de mais de 140 mortos em nove dias. No entanto, a greve da Polícia Militar continua.
— Hoje (ontem), domingo, 100% daqueles que normalmente vão à praia, lá estão. A vida volta à normalidade na Grande Vitória - declarou Jungmann, que disse que o governo federal será "inflexível" com novos movimentos grevistas em segurança pública nos estados. 3.130 militares estão no Espírito Santo.
O presidente Michel Temer demorou uma semana para se pronunciar sobre a crise capixaba, que matou mais de 140 pessoas. Em nota na última sexta-feira, chamou de "inaceitável" a paralisação de policiais, e disse que enviará militares a estados "sempre que necessário". Temer afirmou que a população não pode ficar "refém" de reivindicações.
A crise na segurança começou em janeiro, com matança em presídios. Temer ficou quatro dias em silêncio completo após o massacre no presídio de Manaus, o primeiro deles, que deixou 56 presos barbaramente assassinados. Quando se pronunciou, chamou a matança de "acidente".

Fonte: http://extra.globo.com/noticias/brasil/temer-vai-enviar-ao-congresso-projeto-de-lei-sobre-direito-greve-20917535.html

PREVIDÊNCIA SOCIAL

Centrais confirmam dia de protestos contra PEC 287 em 15 de março

Entidades aderem a paralisação nacional já anunciada de trabalhadores na educação. Proposta do governo "representa, na prática, o fim da aposentadoria para milhões de brasileiros", afirmam
por Redação RBA publicado 13/02/2017 18h04, última modificação 13/02/2017 19h25
ARQUIVO CUT
cutbrasil.jpg
Protesto buscará impedir a aprovação da PEC, que inviabiliza a concessão de aposentadoria
São Paulo – As centrais sindicais confirmaram a realização, em 15 de março, de um dia nacional de protestos e paralisações contra a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 287, de reforma da Previdência. Os trabalhadores na educação já haviam aprovado, em congresso da CNTE (confederação nacional do setor), uma paralisação nessa data. 
Segundo as entidades, "várias ações serão realizadas em conjunto" para impedir a aprovação da PEC, "que inviabiliza tanto a concessão de benefícios que representa, na prática, o fim da aposentadoria para milhões de brasileiros". Estão previstas para os próximos dias manifestações em aeroporto e bases eleitorais dos deputados. Na semana passada, a Câmara instalou uma comissão especial para avaliar a proposta.
"A unidade de luta é fundamental contra este que é o maior ataque aos direitos dos trabalhadores", afirma o presidente da CUT, Vagner Freitas. "É preciso organizar a sociedade brasileira, alertar as pessoas sobre o real objetivo das mudanças que afetam toda a classe trabalhadora."
Na terça-feira da semana que vem (21), representantes das centrais irão a Brasília para reuniões com os presidentes da Câmara e do Senado e líderes partidários. Já nesta semana, eles deverão procurar representantes das comissões especiais da PEC da Previdência e da reforma trabalhista.

FONTE: http://www.redebrasilatual.com.br/trabalho/2017/02/centrais-confirmam-dia-de-protestos-contra-pec-287-em-15-de-marco

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

08/02/2017 11:54 - Copyleft

Previdência Social ou Juros?

Ao contrário do que o financismo nos faz crer, não é a rubrica previdenciária
aquela se apresenta como a maior deficitária na contabilidade da União.


Paulo Kliass*
A entrada em 2017 também pode ser encarada pela ótica de uma busca
desesperada por afirmação de alguma rota de coerência e credibilidade
do governo Temer. Afinal, o passar do tempo veio desconstruindo,
pouco a pouco, toda aquela falsa expectativa criada em torno das vantagens
do “golpeachment”. O canto de sereia dos “putschistas” assegurava que,
uma vez consumada a retirada de Dilma do Palácio do Planalto, tudo
seria resolvido e o Brasil entraria em um verdadeiro céu de brigadeiro.

A realidade, porém, insistiu em desmentir os vendedores de tais falsas
 ilusões. Os equívocos do diagnóstico a respeito da situação econômica
 e social não foram abandonados em relação à leitura equipe anterior, 
quando o chefe da turma da economia era Joaquim Levy. Muito pelo 
contrário! A entrada em campo da dupla Meirelles e Goldfajn recoloca 
o financismo no centro de decisões, ainda com mais poder de fogo. 
Assim, a manutenção da estratégia do austericídio se vê reforçada, 
com elevação sensível dos níveis das maldades a serem praticadas contra 
a maioria da população brasileira.

Já virou jargão a afirmação de que governar é fazer escolhas e definir
 prioridades. Pois a imagem cabe como uma luva para a compreensão
 dos rumos adotados por Temer, desde que ele encabeçou o 
movimento pela deposição ilegítima da presidenta eleita. Além de optar 
pela via da inconstitucionalidade do golpe travestido de ares institucionais,
 Temer escolheu o campo do conservadorismo ortodoxo no domínio da
 economia. É bem verdade que tal preferência não revelou nada de muito
 surpreendente, mas ele resolveu aprofundar a aliança com o núcleo duro
 do sistema financeiro e incorporou para si, de forma definitiva, a 
narrativa da inevitabilidade do ajuste recessivo.

Austericídio: cortes no orçamento e juros nas alturas.

A leitura da turma do neoliberalismo tupiniquim a respeito da 
dinâmica econômica permanecia monocórdica. A recomendação para 
superar as dificuldades se resumia, como ainda se reduz, ao binômio 
do corte das despesas orçamentárias e da manutenção de uma política 
monetária arrochada. Às favas com as críticas que apontavam para os 
graves problemas sociais derivados de tal estratégia, além do desprezo
 pelos economistas que alertávamos para a própria ineficiência de 
tais medidas para resolver o que se pretendia. A trágica combinação de 
política fiscal restritiva com taxas de juros estratosféricas provocaria uma
 mistura explosiva para o conjunto da sociedade.

Alçado ilegitimamente à condição de chefe de governo, Temer fez as suas
 escolhas. A radicalização da trilha austericida veio acompanhada de 
contingenciamentos mais duros de verbas públicas, de taxas de juros 
reais e nominais inimagináveis, de desmonte de estruturas essenciais da
 administração pública, entre tantas outras manifestações dos representantes
 da “nova equipe técnica e competente” que chegava à Esplanada dos Ministérios.
 Enfim, nem tão eficiente nem tão nova assim, uma vez que os oportunistas de
 todos os matizes rapidamente se converteram ao novo credo e se acomodaram
 aos comandos da nova direção.

O vice-presidente eleito em 2014 estabeleceu suas prioridades. E assim foram 
considerados essenciais seus objetivos de: i) promover o congelamento das
 rubricas orçamentárias pelo horizonte de 20 anos da vida nacional; e ii) empurrar
 goela abaixo da sociedade uma reforma previdenciária redutora de direitos de
 trabalhadores na ativa e de aposentados. Levando-se em consideração a insanidade
 da avaliação subjacente a tal aventura criminosa, nada mais coerente com um
 diagnóstico que tem seus olhos focados única e exclusivamente na necessidade
 de promover superávit primário a qualquer custo.

Ocorre que o discurso é mentiroso e o argumento é falacioso. 

Não é verdade que a estrutura da previdência social seja estruturalmente
 desequilibrada e que sua manutenção levará à quebradeira generalizada do
 Estado brasileiro. A situação das contas do Regime Geral da Previdência 
Social (RGPS) passa por um momento de maior dificuldade em função de 
problemas das receitas do INSS e não por um descontrole insuperável. Os 
últimos governos promoveram um festival de desonerações das receitas 
previdenciárias a serem recolhidas pelas empresas. Por outro lado, a 
redução do ritmo de atividade econômica e a recessão promoveram 
também uma drástica redução das receitas do RGPS. O aumento do desemprego
 tem provocado a retirada de milhões de trabalhadores do mercado de 
trabalho, com evidentes impactos também sobre a previdência.

Previdência não é estruturalmente desequilibrada.

Frente a esse quadro é compreensível que haja um descompasso entre 
entradas e saídas de recursos do sistema. As despesas se mantêm, uma
 vez que as pessoas continuam aposentadas e outras passam a se aposentar. 
As receitas diminuem por conta da estagnação provocada pelo austericídio.
 E daí os jornalões escancaram as manchetes do suposto “rombo enorme” 
da previdência. Trata-se do mais puro e conhecido alarmismo irresponsável.
 Desde 2015 as contas apresentam problemas, mas nada comparável a um
 descompasso estrutural. Se a economia voltar a crescer, as receitas devem 
retornar a patamares compatíveis às despesas.

E tudo isso sem mencionar os problemas associados ao contingente da
 previdência rural e ao abandono deliberado do conceito de seguridade 
social, tal como definido na própria Constituição. A parte mais
 relevante do chamado “déficit previdenciário” tem origem nos benefícios
 concedidos aos trabalhadores do campo, que só foram incorporados ao 
sistema em 1988 e não apresentam histórico de contribuição. Ao contrário
 do que afirmam os especialistas em planilha contábil, a decisão dos 
constituintes foi o reconhecimento de uma profunda dívida da sociedade 
brasileira para com que esse setor, que até então sempre fora marginalizado
 e impedido de participar do sistema previdenciário. Já o tripé 
“saúde-previdência-assistência” que a Constituição define como seguridade
 social tem suas fontes de receita asseguradas e apresenta um orçamento 
formalmente equilibrado.

Não é verdade que a única maneira de evitar o descontrole da inflação seja
 pela manutenção da SELIC em níveis tão elevados que fazem do Brasil o
 campeão mundial da taxa de juros há anos, sem interrupção. Exatamente 
pelo fato de a economia não ser uma ciência exata, existem várias interpretações
 para o mesmo fenômeno e mais de uma recomendação de política econômica. 
Tanto isso é verdade que até um dos principais economistas do campo da ortodoxia,
 André Lara Rezende, acaba de tornar pública uma espécie de “mea culpa” a esse
 respeito. De acordo com ele, a política que mantém a taxa de juros alta não apenas
 é ineficaz para reduzir preços, como em alguns casos pode até provocar inflação. 
Ainda que meio capenga, em sua auto crítica pública, o banqueiro afirma que esse
 tem sido o caso brasileiro (nem tão) recente. Em suas palavras: “Ou seja, o 
juro alto, não só agrava o desequilíbrio fiscal, como no longo prazo mantém a inflação
 alta.”Em poucas palavras, ele reconhece o equívoco cometido ao longo dos últimos
 vinte anos. Resta saber quem vai pagar a conta de tanta irresponsabilidade cometida
 contra a grande maioria da sociedade.

Por que não uma Reforma da Política Monetária?

Ora, se o governo estabeleceu mesmo como objetivo o controle de gastos públicos,
 sua opção em alcançá-lo pela previdência social revela uma prioridade 
bastante questionável. Senão, vejamos. Os números oferecidos pelas 
próprias instituições oficiais encarregadas pela política econômica são cristalinos.

Ao contrário do que nos faz crer o discurso do financismo, não é a rubrica
 previdenciária aquela se apresenta como a maior deficitária na 
contabilidade da União. O item do Orçamento federal que oferece o maior
 rombo é a conta de pagamento de juros. Sim, de acordo com informações 
do próprio BC, ao longo de 2016 as despesas com esse quesito foram de 
R$ 407 bilhões, algo que representa em torno de 7% do PIB. Houve momentos, 
ao longo do ano passado, em que o total acumulado de 12 meses dessa conta
 chegou a atingir igualmente vergonhosos R$ 540 bilhões. Ainda que sejam
 gastos da órbita federal, o governo faz cara de paisagem e ignora o assunto 
quando alguém ousa colocar o tema na mesa. Como não existe nenhuma receita
 de tributo correspondente a tal atividade, o impacto das despesas é 100% 
comprometedor do equilíbrio fiscal. No entanto, como outra “prioridade 
do governo” é a manutenção do superávit primário, não há nenhuma medida
 para contingenciar ou reduzir os gastos com a política monetária. Afinal, 
como o povo da finança enche a boca para dizer, os contratos do mercado 
são sagrados e imexíveis.

Assim, como a intenção é encontrar contas passíveis de redução na estrutura
 orçamentária, os especialistas dos cortes não hesitam em apontar o dedo para
 a previdência social. Afinal, a conta é mesmo expressiva: foram R$ 516 bi 
em 2016. No entanto, o sistema prevê receitas específicas para sua manutenção
. Assim, ainda que fiquemos submissos aos cálculos polêmicos e questionáveis
 do Ministério da Fazenda, o déficit apresentado pelo sistema no ano passado
 teria sido de R$ 108 bi. A disparidade entre ambas as contas é evidente! 
Mas o governo esqueceu juros e optou pela previdência.

Assim como a chamada “PEC do Fim do Mundo” silenciou sobre congelar
 os gastos financeiros ao longo dos próximos 20 anos, aqui também o 
financismo passa incólume - graças ao compadrio generoso dos responsáveis
 pela equipe econômica. Pouco importa o caráter redistribuidor de renda 
dos benefícios do INSS. Pouco importa que mais de 40% desse volume de
 aposentadorias e pensões retorne aos cofres públicos sob a forma de tributos
 e impostos. Pouco importa que sejam mais de 30 milhões de indivíduos
 beneficiados por esse tipo de remuneração. A prioridade é a Reforma da
 Previdência, com o intuito de retirar direitos para reduzir as despesas 
previdenciárias. E ponto final.

Juros: R$ 4 trilhões em 2 décadas.

Por outro lado, a exemplo do que vem sendo praticado há décadas, a 
prioridade é não mexer com o superávit primário. Assim, não 
interessa promover nenhuma “Reforma da Política Monetária” 
– esta sim poderia oferecer algum alívio significativo nos gastos federais. 
Nesse caso, os dados da Secretaria do Tesouro Nacional são realmente
 impressionantes. Ao longo de 2 décadas entre 1997 e 2016, por exemplo,
 o Estado brasileiro registrou um déficit acumulado de R$ 4,1 trilhões em
 sua conta de juros. Isso significa que foi esse o valor transferido do 
orçamento público para o sistema financeiro, a título de pagamento 
dos juros da dívida pública. Todos sabemos que são recursos dirigidos a
 uma pequena parcela da população e sobre os quais incide uma porcentagem
 muito reduzida de impostos, em razão da conhecida regressividade de nossa
 estrutura tributária.

Previdência social ou juros? Temer fez sua escolha e definiu sua prioridade.

Cabe à sociedade organizada demonstrar sua discordância e pressionar 
o Congresso Nacional para evitar a aprovação de tal desastre anunciado.




* Paulo Kliass é doutor em Economia pela Universidade de Paris 10 
e Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental, carreira 
do governo federal
FONTE: CARTA MAIOR
http://cartamaior.com.br/?/Editoria/Economia/Previdencia-Social-
ou-Juros-/7/37670



Economia

Opinião

As falácias econômicas da turma da caixinha (de Pandora)

por Luiz Gonzaga Belluzzo — publicado 09/02/2017 00h10, última modificação 08/02/2017 12h13
As decisões microeconômicas “racionais” prestam homenagem aos sofismas que infestam os modelos macroeconômicos
Nelson Almeida/ AFP
Mercado
Os consumidores, bem, os consumidores reduzem os gastos. Uns estão desempregados e outros com medo do desemprego
Entre 2012 e 2014, a economia brasileira sentiu os efeitos da desaceleração do ciclo expansivo que a beneficiou desde 2004. Nesse período, o governo da presidenta Dilma cuidou de conceder isenções fiscais para a turma do Pato, retardou o programa de concessões e segurou o realinhamento de preços administrados.
No crepúsculo de 2014, os formadores da opinião midiático-financeira instilaram a pré-verdade econômica nos ares de Pindorama. O consenso da “turma da caixinha” propalava o desastre: a economia cresceu apenas 0,5% e apresentou um déficit primário de 0,6% do PIB em 2014. 
A vitória de Dilma nas eleições aumentou a gritaria: desastre!, desastre! Tanto clamaram pelo desastre que a política econômica da turma da caixinha foi executada com esmero pelo ministro Levy. Dois anos depois, os incautos e crédulos descobriram que a caixinha da turma era a de Pandora.
Aberta a caixinha, os monstros ficaram à solta: o choque de tarifas voou lado a lado com o choque de taxa de juros, de mãos dadas com a forte desvalorização cambial. Para não deixar barato, os preços desaforados convidaram os cortes em investimentos públicos para mais um baile da Ilha Fiscal.
A interação entre o choque de tarifas, a subida da taxa de juros, a desvalorização do real e o corte dos investimentos públicos determinaram a elevação da inflação em simultâneo à contração do nível de atividade, e daí à restrição do crédito. O encolhimento do circuito de formação da renda levou, inexoravelmente, à derrocada da arrecadação pública. 
As fábricas se encharcam de capacidade ociosa. Endividadas em reais e em moeda estrangeira, as empresas são constrangidas a ajustar seus balanços diante das perspectivas de queda da demanda e do salto do serviço da dívida.
Para cada uma delas é racional dispensar trabalhadores, funcionários, assim como, diante da sobra de capacidade, procrastinar investimentos que geram demanda e empregos em outras empresas. Para cada banco individualmente era recomendável subir o custo do crédito e racionar a oferta de novos empréstimos. 
Os consumidores, bem, os consumidores reduzem os gastos. Uns estão desempregados e outros com medo do desemprego. Assim, o comércio capota, não vende e reduz as encomendas aos fornecedores que acumulam estoques e cortam ainda mais a produção. 
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As demissões disparam. A arrecadação míngua, sugada pelo redemoinho da atividade econômica em declínio (Cris Faga / NurPhoto/AFP)
As demissões disparam. A arrecadação míngua, sugada pelo redemoinho da atividade econômica em declínio. Isso, enquanto a dívida pública cresce sob o impacto dos juros reais e engorda ainda mais os cabedais do rentismo caboclo.
O mergulho depressivo iniciado entre o crepúsculo de 2014 e a aurora de 2015 pode ser apresentado como um exemplo do fenômeno que as teorias da complexidade chamam de “realimentação positiva” ou, no popular, “quanto mais cai, mais afunda”.
As decisões “racionais” do ponto de vista microeconômico, prestam homenagem às falácias de composição que infestam os modelos macroeconômicos: o que parece bom para o “agente individual” – seja ele empresa, banco ou consumidor – é danoso para o conjunto da economia.  
Confrontando o trimestre de agosto a outubro de 2016 com igual trimestre de 2015, os dados do IBGE apontam uma elevação de 3,0 milhões de pessoas desocupadas na força de trabalho, um acréscimo de 32,7%. A massa de rendimento real habitualmente recebida pelas pessoas ocupadas em todos os trabalhos mostrou redução de 3,2%.
De janeiro a setembro de 2016, a quantidade de pedidos de recuperação judicial cresceu 62%, em comparação com o mesmo período de 2015, fruto do longo castigo imposto aos fluxos de caixa das empresas, pela queda na demanda e restrições ao crédito. Nos primeiros nove meses do ano, foram feitos 1.405 pedidos de falência no País. O número representa um aumento de 6% em relação ao mesmo período de 2015.
A retração de 0,8% do PIB no terceiro trimestre de 2016 foi a sétima de uma sequência iniciada no primeiro trimestre de 2015. 
A mídia brasileira espargiu a convicção da rápida recaptura dos monstros liberados pela turma da caixinha. Até agora, nada. Um amigo empresário encalacrado em sucessivas negociações com os bancos sugeriu, entre rilhar de dentes, que não devemos desperdiçar a mitologia grega com episódios funestos. Disparou: essa turma é do Zé do Caixão.
Via: http://www.cartacapital.com.br/revista/938/as-falacias-economicas-da-turma-da-caixinha-de-pandora